sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A letra V

Quando a noite invadiu a cidade, pensei que não passaria de algo inocente.
Não pensei que cruzaria com olhos confusos atrás de um balcão repleto de bebidas, e do comando de pick-ups noturnas.
Cores que se confundiam entre o azul e o verde denunciavam sua própria natureza.
De indecisões que pairavam em seu ser.
E como me atraí por esses olhos, ainda que deles não saíssem confianças.
Deixei-me invadir por assuntos curtos, antes de voltar para o mesmo lugar.
E então, mais conversas surgiram.
O mundo parou, e não existia mais nada ao meu redor senão ele.
Cativante sorriso, corpo magro que prometia inocência.
Ainda que eu soubesse de parte de seu passado, por um outro alguém.
E me arrisquei.
O carro parado no estacionamento convidava, enquanto as mãos se entrelaçavam pelo caminho.
E então eu brinco, finjo não querer.
Você se confunde, o cenho franzido.
Mas então um beijo sela a noite, convidando a descobertas por trás de tudo.
A intensidade daquilo me consome. E eu me entrego por completo à filosofia de fazer o que quero, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte.
Só não celamos atos pelo contraditório: meu olhar insinuante não complementa o corpo intocado.
E então, as conversas se estendem. Passamos ao mais do que amigos.
No apartamento, as roupas se misturam ao chão, corrompem a inocência.
E por quê resolvi entregá-la a você?
De seus olhos incertos, saíam tranquilidade. Algo que nem todos os olhares foram capazes de me trazer.
E a noite de conto de fadas prossegue com risos, copos de água.
E o sangue corrompe trazendo um vazio insuportável. Onde lágrimas derramadas viriam a tona na noite fria.
Continuamos a historinha, sempre tentando marcar compromissos que nunca são selados.
Desculpas de trabalhos, ocupações, talvez não verdadeiras.
Descubro que trata-se de um menino tentando ser homem. Onde o resultado é apenas mais uma frustração completa.
Divirto-me com o fato de você depender tanto disso para se reafirmar.
Você correu atrás de mim, e eu tentei fazer o mesmo quando percebi a repentina ausência.
E então veio uma decepção, ainda que eu não conseguisse me arrepender da decisão tomada.
Se continuasse assim, descobriria defeitos extremos que só me irritariam.

Homens clamam por curvas, companhias, amores.
Meninos clamam por maturidades, noites insanas, e incrivelmente estúpidas.

Apaguei a letra V, aos risos.
Gargalhadas me corrompem quando me lembro. Sem nenhum remorço.


V, de vadio.

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